Archive for the ‘Quebando o Sigílo’ Category

TRIBUTO A UM AMIGO QUE SABIA ESCREVER

21 de March de 2009





Histórias da Polícia de Santos da década de 70, a década da copa do mundo de futebol

Prefeito nomeia foca ( publicado no jornal Cidade de Santos em 12/7/1977)

Também a redação –

O concurso também despertou grande interesse na redação do Cidade de Santos, com os jornalistas indicando diversos nomes. Entre eles, Abissair Rocha (da coluna Quebrando o Sigilo), “pela lembrança que me traz de um investigador de polícia, cujo apelido é Santão, sugiro que o mamífero receba o mesmo nome, isto é, Santão”. Outro jornalista, Francisco Aloise Ferreira, sugere o mesmo nome, “pela esperteza que a caracteriza. Porém, se a mesma for infernal como dizem, a sugestão seria Bebê Diabo”. (N.E.: a referência é a um colega que estava se formando como jornalista, Edison Carpentieri, que já nos tempos de faculdade era conhecido como Bebê Diabo – lembrando que todo jornalista iniciante também é conhecido como foca).
A redação ainda sugere: Lorino, Corintiano, Bonitão, Cláudio Coutinho, Excelsior, Geraldão, João Bobo, Idi Amin, Dadá, Xuxu, Fofoca, Juliano, King-Kong, Flop, Floquinho, Falcão, Focão, Alcebíades, Meningexerxes, Focadélica, José Bonifoca, Fóc-fóc, Fofura, Fócrates, King-foca, Fifo.
Enquanto continuava a polêmica em todos os setores da comunidade santista, causada pela oposição política de um prefeito nomeado à realização de um concurso do tipo eleição popular, continuava no Aquário Municipal o tratamento da foca, em razão dos ferimentos infligidos ao animal na época de sua captura. Notícia de 20/7/1977, no jornal Cidade de Santos:

QUEBRANDO O SIGILO

Para o investigador Eurípedes Alves, encarregado da Ronder, o nome de Krikri para a foca até que ficou muito bem. Segundo ele, de qualquer forma a Ronder foi homenageada, pois o animal não ficou com o nome de Santão, mas Krikri também é apelido de um investigador lotado naquele setor, o Antonio Barbeiro Neto, também conhecido como “Sanfoneiro”.

No dia 30/7, o mesmo Cidade de Santos registrava o recebimento de comunicação com o teor: “Sr. Editor-chefe: Tenho a honra de dirigir-me a V. Sa. para comunicar que este Legislativo aprovou, em sessão de 18 do fluente, propositura do vereador Dr. Mantovani Calejon, no sentido da inserção em ata de um voto de congratulações com esse conceituado Jornal, pela felicidade na escolha do nome Krikri para a foca hoje residente no Aquário Municipal, sugestão do jovem Waldenei Gonçalves de Barros. Atenciosas Saudações. Dr. Oswaldo de Carvalho de Rosis, Presidente”.
Em 6/8/1977, o jornal registrava a melhoria das condições de saúde da foca Krikri, ainda em fase de adaptação ao novo ambiente, e o início da distribuição dos plásticos colantes com o nome do animal, pelo vereador Carlos Mantovani Calejon.
O capítulo final da história começou a ser escrito em 20/10/1977, quando o jornal santista A Tribuna registrou:

Com a morte da foca, o leão marinho volta a ser a atração do poço

(foto: jornal A Tribuna, em 20/10/1977)

Foca morre e o Aquário perde a grande atração
Somente hoje, após a autópsia a saer realizada no Museu de Pesca, serão apurados os reais motivos da morte da foca do Aquário Municipal, e que se constituía numa das grandes atrações para a criançada. Na manhã de ontem, logo após tomar conhecimento do ocorrido, o prefeito determinou que o corpo fosse doado à Divisão de Pesca Marítima, a fim de que seja embalsamado e mantido em exposição. Aliás, foi o próprio prefeito que denominou a foca de Farofeiro, uma vez que foi capturada na época em que ele comandava a rigorosa fiscalização contra a realização de piqueniques nos jardins das praias da Cidade, na chamada Operação Farofeiro.
Com a morte da foca, a única atração do poço do Aquário ficará sendo o leão-marinho, que já se encontrava no local há bem mais tempo que a Farofeiro.
PESQUISA A TRIBUNA – Depois de permanecer 4 meses e 8 dias no Aquário Municipal sob os cuidados médicos do dr. Aloísio F. Oliveira, sendo uma atração para todos os visitantes, a foca macho Farofeiro, assim batizada pelo prefeito Antônio Manoel de Carvalho, morreu na madrugada do dia 18, terça-feira.
Ela apareceu e foi capturada em um dos terminais marítimos existentes em Guarujá, no dia 6 de julho deste ano, por volta das 15h30, com grande ferimento que lhe causava vasta perda de sangue. Foi mantida amarrada a uma árvore até que fosse providenciado seu transporte para o Aquário Municipal, na Ponta da Praia. Depois de um rigoroso exame médico, constatou-se que o animal estava com uma forte pneumonia, tendo, portanto, logo entrado em rigoroso tratamento médico.
Apesar de a enfermidade ter sido curada após alguns dias, ela pouco se alimentava, contentando-se, apenas, com um pouco mais de 1 quilo de peixe, quando o normal seria 20 quilos por dia. Quando encontrada, em julho, Farofeiro pesava 260 quilos e quando levada à balança, após sua morte, estava com apenas 200 quilos, tendo havido, portanto, uma perda de 60 quilos em apenas 4 meses.
Para Arnaldo, zelador do Aquário Municipal, a foca estava com um tumor na garganta, porém isso só poderá ser provado após a realização da autópsia que será efetuada hoje, na Divisão de Pesca Marítima, onde, depois de embalsamada, Farofeiro será exposta e se constituirá, evidentemente, numa das grandes atrações.
No dia seguinte, 21/10, o jornal Cidade de Santos publicou::

Empalhada, foca Krikri ficará à exposição
Morreu na madrugada de terça-feira a foca que há quatro meses tornara-se a vedete do Aquário Municipal – Krikri, cujo nome foi escolhido através do concurso popular promovido por este jornal, em julho, logo após ter sido encontrada por Mauro Gilbrau Lima, estivador, colegas seus e funcionários da Indústria Dow Química, no pier da emrpesa em Guarujá. O prefeito santista determinou que, após a autópsia a ser feita no Instituto de Pesca, o animal seja empalhado e colocado em visitação pública, no Museu de Pesca.
Considerada como exemplo do domínio da vontade popular sobre a imposição injusta de uma autoridade, a escolha do nome Krikri para a foca, por crianças e adultos de toda a região desde Itariri e a Capital, acabou se firmando, contra a vontade do prefeito Antonio Manoel de Carvalho, que tentou frustrar o concurso para escolha do nome batizando o animal de Farofeiro. Durante o batismo, notou-se que a foca – machucada pelas cordas durante a captura, estava piorando, sendo imediatamente providenciada a medicação.
Enquanto sua fama foi aumentando, a foca continuou apresentando problemas de adaptação no tanque do Aquário Municipal, motivados também pela doença que a vitimou e que os veterinários ainda não definiram se pneumonia ou tuberculosse. Neste último caso, acredita-se na possibilidade de outros animais virem a contraí-la, já que no tanque estão o leão-marinho Macaé e as tartarugas gigantes, que não foram isolados enquanto Krikri estava sendo tratada.