Archive for the ‘Genipabú’ Category

REDE

20 de March de 2010

Definição de redinha…

Neste poema de Jorge Fernandes, poeta potiguar, é que nesta obra evidencia-se a invenção semântico/formal, o objeto (precário) como expressão meta-irônica, além da forma caligramática com que grafou o verso “Suspensa…”, no poema REDE. Vejamos:

Embaladora do sono…
Balanço dos alpendres e dos ranchos…
Vai e vem nas modinhas langorosas…
Vai e vem de embalos e canções…
Professora de violões…
Tipóia dos amores nordestinos…
Grande… larga e forte… pra casais…
Berço de grande raça

Guardadora de sonhos…
Pra madorna ao meio-dia…
Grande… côncava…
Lá no fundo dorme um bichinho…
— ô…ô…ô…ôô…ôôôôôôôôô…

— Balança o punho da rede pro menino durmir…

Tomando a rede como símbolo de brasilidade, o poeta investiu no elemento regional armando-a nos “alpendres” e nos “ranchos” onde se vivem amores “nordestinos”. Tem-se, portanto, um quadro regional que não deixa de lembrar um clássico da brasilidade com raiz no romantismo: a imagem da rede como um “Vai e vem nas modinhas langorosas…/ Vai e vem de embalos e canções…” sugere o quadro romântico do poema “Adormecida”, de Castro Alves. Neste poema de Jorge Fernandes, superam-se os impasses românticos e ganha presença uma criança que é fruto de amores consumados na “Tipóia”, esta, como símbolo de valores ancestrais (indígenas) que se atualizam para a representação da “grande raça”.

Ao mesmo tempo, o poeta carrega tintas regionais para dar vida ao quadro representado quando, tornando visíveis as marcas da oralidade, conclui a cena com a espontaneidade da fala: a criança é “bichinho” que deve “durmir” embalado pela melodia do “ô…ô…ô…ôô… ôôôôôôôôô…”.

Seria este, pois, um poema que representaria o registro da brasilidade nordestina. Contudo, além de estabelecer tais relações, o poeta investe num experimentalismo formal praticamente inédito no Nordeste, naqueles anos, dando à imagem da rede um valor semântico que supera de muito a ousadia formal: “suspensa”, não é só a rede, é também a “grande raça” que “sonha”. Nesta ambigüidade, o valor porventura nostálgico que entrevê sobreposto à cena nordestina o quadro romântico da virgem adormecida, de Castro Alves, obnubila-se ante uma imagem que pode ser relacionada a outro valor, que chamamos de utópico: trata-se da representação de uma “raça” que, surrealisticamente, antecipa-se na sua posição “suspensa” à posição assumida por Macunaíma quando este se transforma na constelação da Ursa Maior. Mário de Andrade, diga-se de passagem, conheceu o poeta e o poema na sua passagem por Natal, naqueles anos modernistas, conforme se verifica nos relatos de O turista aprendiz (Mário de Andrade, 1983).

Senta a pua, desça a lenha:

Comente este post ou dê um link do seu site.

Acompanhe esses comentários.

Seja legal, não fuja do tópico.

Não faça nada que você não faria no seu site ou blogue.

Ligeirinho, agora com balas traçantes aqui no Vietnã…de cara para o Morumbi ,muito chique…