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CADEIA COM POESIA

17 de April de 2009




>>>“Muita gente pensa que todo policial é brucutu e tem de fazer força. Não é nada disso. O policial tem que usar a cabeça”, diz o delegado aposentado João Kiss Paterno. Comprovando essa teoria, ele publicou, em 2000, um livro de poesias. Parece estranho para um delegado, não?

Não. Eu e a Polícia é uma homenagem poética ao trabalho da corporação. As composições estão relacionadas a investigações, funcionários da Polícia Civil, crimes… E, também, ao cotidiano familiar. O livro tem 217 páginas e 101 poesias, entre elas, Campana, Investigação, Testemunha, Interpretação, Escrivão de Polícia, e o O Bom Policial, escolhida para encerrar esta reportagem.

Em prefácio ao livro, Newton Fernandes, outro delegado afeito às letras, escreveu: “João Kiss Paterno é delegado de polícia, no entanto é um delegado-jornalista e, também, faz-se agora um delegado-poeta. Então, para sermos mais precisos, é um poeta e jornalista-delegado”.

Paterno trabalhou nos Diários Associados, de Assis Chateaubriand, de 1951 a 1975. Começou aos 14 anos, como assistente de revisor. Quando saiu, era editor.

“O jornalismo foi a fase mais feliz da minha vida. Fora a realização profissional, eu absorvi conhecimentos que nunca imaginaria”, diz Paterno. Apesar disso, não aceitou os convites que recebeu ao sair dos Diários para trabalhar em outras redações. Permaneceu como free-lance até completar os 30 necessários à aposentadoria, e passou a se dedicar somente à carreira de delegado.

Foram 46 anos na Polícia Civil, 18 como investigador, até a aposentadoria, em 2004. Passou pela Delegacia Geral de Polícia e pelo Departamento de Homicídios, onde ficou por 12 anos (de 1987 a 1999). Formou-se em Direito em 1969, na primeira turma das Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU). “O dia-a-dia da Polícia são as desgraças. Chega uma certa hora que você começa a ficar frio, insensível”, diz.

”Não me arrependo”

A publicação do livro só aconteceu por insistência dos amigos. “Eu banquei a edição de 1.200 exemplares e não me arrependo”, diz o delegado, que na noite de autógrafos, realizada na Associação dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo, vendeu a obra aos amigos pelo valor simbólico de R$ 10.

Por conta de suas poesias, ele foi convidado para uma entrevista no programa do Jô Soares, em 2003. Aceitou, mas se diz “inimigo dessas coisas de aparecer, de estar sob os holofotes”.

Com a repercussão positiva da entrevista, a Associação dos Delegados passou a vender os exemplares aos interessados. “Um amigo comprou 300 exemplares para distribuição na Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo)”, ressaltou.

João Paterno sempre foi apaixonado por literatura. “No jornalismo, desenvolvi aquela vontade que eu já tinha, a de escrever.” Nos Diários, ele publicou alguns contos com temática policial.

As ficções são suas leituras preferidas, além dos poemas de Aloísio Azevedo e Guilherme de Almeida, Paterno gosta também da obra de Lobsang Rampa, porque “ensina a dar aquela parada, contar até dez, fechar os olhos”, diz.

Todos os seus poemas foram escritos em momentos de inspiração. “Quando vinha tudo à minha cabeça, eu escrevia. Se você pedir para eu fazer agora uma poesia sobre algum assunto, eu não consigo”, comenta.

Eu e a Polícia tem também alguns poemas sobre a família do autor. Paterno tem dois filhos, Brenda e Glenn, e dois netos, Anthony e Aline. É casado há nove anos com Othília. É a essas pessoas que ele dedica o livro.

O delegado aposentado é hoje membro da Academia de Ciências, Letras e Artes dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo, e coordenador da Revista Acadêmica – que veicula textos produzidos pelos acadêmicos. É nesta publicação que estará sua próxima composição, um conto sobre o bem-te-vi machucado que ele e Othília encontraram e levaram ao veterinário.

Serviço – Quem quiser adquirir um exemplar de Eu e a Polícia deve procurar a Associação dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo, na avenida Ipiranga, 919, 9º andar, no Centro de São Paulo. Telefones (0xx11) 222-3722 e Fax (0xx11) 222-3012. E-mail: acadpesp@acadpesp.com.br,Caso queira telefonar, nen tente ligar á cobrar, lá os caras são mão de vaca.

Ligeirinho Investigador de Polícia, com a colaboração compulsória de Luisa Destri

O Bom Policial

Atento ao rádio, na escuta,
olhos vivos na avenida,
nas ruas escuras, ermas,
o homem valente expõe a vida.

Fim de semana ou feriado,
Ano Novo, Páscoa ou Natal,
são dias comuns e corriqueiros
na carreira do bom policial.

No lar não vê os filhos crescer,
descura dos assuntos conjugais,
tempo não há para o lazer,
festas ou eventos policiais.

Nos plantões tem que solucionar,
de acordo com a ocorrência,
casos diversos e complexos
que exigem tato e paciência.

Na investigação de campo
não sabe o que vai acontecer,
bandidos não respeitam a lei,
na refrega poderá morrer.

Todos dizem é um sacerdócio,
mas não enxergam o sacrifício
ser um gari da sociedade,
com reles ganho no ofício.

Para contentar o próprio ego,
Recompensa única e leal,
Contenta-se o investigador
Com a notícia no jornal.

João Kiss Paterno

* João Kiss Paterno é Delegado de Polícia Aposentado
Ligeirinho do Jardim Chove Balas, direto de Gurupi PA