Archive for January, 2012

Marcos Carneiro Lima completa 1 ano na chefia da Polícia Civil de São Paulo

26 de January de 2012

terça-feira, 24 de janeiro de 2012 Marcos Carneiro Lima completa um ano à frente da Polícia Civil

Da lavra de Kerma Sousa Matos

Em 10 de janeiro, última terça-feira, Marcos Carneiro Lima completou um ano de gestão como delegado geral da Polícia Civil. Tendo operado mudanças estruturais na Instituição, como a do Departamento de Polícia Judiciária da Capital (Decap), que ganhou reforço de Centrais de Flagrante e Centrais de Polícia Judiciária, ele promete continuar priorizando o trabalho de investigação, investindo em novas ideias que consigam otimizar esse serviço.

“Temos uma missão constitucional: a investigação, que é a alma da Polícia Civil. Todos os policiais, do delegado ao carcereiro, de todas as carreiras, na essência somos todos investigadores de polícia. Temos que ter esse gosto pela investigação de qualidade, célere. E o nosso foco, além da investigação, é a prisão de criminosos”, frisou o delegado geral, que em 2012 promete ampliar o rol de atribuições das carreiras. “Assim todos poderão fazer boletins de ocorrência e investigações. Será uma grande mudança cultural que mostrará nossa essência investigativa e que somos profissionais diferenciados. Com isso só temos a ganhar, nós e a sociedade”, disse.

Considerando os atuais grandes desafios da Polícia Civil, Marcos Carneiro falou da importância da renovação do efetivo da Instituição: “Isso é muito positivo para a sociedade, porque não se pode hoje ter em mente que o comando da polícia ainda tem a mentalidade da década de 70, do século 20, porque aí quem sai no prejuízo e perde é a sociedade”, defendeu. “Ser policial é trabalhar com uma dedicação muito grande, o que provoca um desgaste também muito grande. A pessoa que quer ser policial tem que estar disposta a servir ao outro e estar ciente de que fará isso arriscando a própria vida. Não é só um emprego. Ultrapassa essa coisa do só emprego”, completou.

Citando alguns pontos positivos para a Polícia Civil como um todo em 2011, o delegado geral destacou a transferência do Detran (Departamento Estadual de Trânsito) para a Secretaria de Gestão Pública e o maior compartilhando de informações e ações entre policiais civis e militares. “Para nós é um grande avanço essa melhora institucional, e cada um fazendo a sua missão: a Polícia Civil a investigação e a Polícia Militar o patrulhamento”, mencionou.

No final do ano, o delegado geral pediu aos diretores de departamento que fizessem um comparativo entre 2010 e 2011. “Focamos em pontos específicos, como o número de flagrantes, ou seja, o número de pessoas presas pela Polícia Civil, e o número de inquéritos policiais relatados, importantíssimo para mostrar o número de prisões efetuadas, porque não são só os flagrantes, há as prisões de procurados. Quando a polícia captura alguém que já está condenado pela Justiça, a sensação para quem é da sociedade é muito boa, porque está vendo que o crime não compensa e que a justiça está sendo feita”, argumentou.

Em 2012, segundo o delegado geral, uma mudança será muito importante para a Polícia Civil: “A Divisão de Capturas será o carro chefe do departamento que vai ser criado em razão da extinção do Dird (Departamento de Identificação e Registros Diversos): será o Departamento de Capturas e Delegacias Especializadas, para deixar claro que é um departamento de polícia judiciária. Eu defendo que a Polícia Civil faça o mínimo de ação administrativa”, disse Marcos Carneiro. Ele explicou que os serviços de identificação e registros diversos ficará diluído na nova unidade, já que o IIRGD (Instituto de Identificação Ricardo Gumbleton Daunt), detentor do maior banco de dados civis e criminais da Polícia Civil, não mais pertence ao Dird, e sim ao Dipol (Departamento de Inteligência).

Sobre a reestruturação das carreiras policiais civis, Marcos Carneiro aposta na eficácia de modificações pontuais. “As polícias modernas do mundo inteiro estão muito mais simplificadas em hierarquia e estrutura, e o nosso alvo é muito objetivo, é combate à criminalidade e prisão do criminoso, mais do que isso, é querer criar mecanismo burocrático em excesso. Entendemos que se não é possível uma mudança de forma mais radical, que ela seja paulatina, então pedi um estudo para ampliar o rol de atribuições das carreiras. Todos têm que fazer boletim de ocorrência e investigação”, afirmou.

Em um balanço dos primeiros 365 dias de sua gestão, Marcos Carneiro Lima reconheceu haver ainda muitos desafios a serem enfrentados pela Polícia Civil para que os serviços prestados à população sejam por ela positivamente qualificados e agradeceu aos policiais pelos resultados obtidos no último ano. “Aos policiais civis quero deixar o meu agradecimento, porque nós só chegamos ao final de 2011 com tanta evolução e sucesso da Polícia Civil, graças ao trabalho individual. É cada um fazendo a sua parte, que o todo é reconhecido pela sociedade”, declarou.

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Como a caipirinha nasceu, foi batizada e cresceu em Santos.

7 de January de 2012

A TERRA DA CAIPIRINHA

Como a caipirinha nasceu, foi batizada
e cresceu em Santos.
Da lavra de Marco Antonio Batan.

É conhecida a história de que a pintora Tarsila do Amaral, biografada por sua
sobrinha, organizava famosas feijoadas em Paris na década de 20. E segundo sua
sobrinha, “o feijão era fácil de arrumar nos mercadinhos mas a pinga vinha do Brasil e
passava pela alfândega francesa rotulada como produto de beleza”. Esta afirmação
que circula na internet faz crer que o nome “caipirinha” já existia nesse tempo no
Brasil. O que não é verdade. Possivelmente a sobrinha da Tarsila referia-se à batida
de limão ou “brasileira”, mas como escreveu essa biografia muitos anos mais tarde,
utilizou o nome caipirinha hoje consagrado. Muita gente também confunde, por
conveniência, a caipirinha e a batida de limão apesar de serem bebidas com sabores
diferentes. Mas essa é uma boa oportunidade para refletir sobre a origem da
caipirinha e seu nome.
Batida de limão é uma bebida feita com suco de limão, aguardente de cana de
açúcar e açúcar e como é feita em quantidade para muitos copos, é acondicionada em
litro e guardada na geladeira. Por sua vez, a caipirinha é individual, feita com o próprio
limão cortado em pedaços e macerado no copo em que vai ser servida, com açúcar,
acrescentando-se após a aguardente de cana e gelo. É, então, aerada com ajuda de
outro copo invertido sobre o primeiro e a mistura está pronta para ser bebida na hora.
Não dá para guardar.
Vamos por partes. O gelo à vontade só surge no Brasil a partir de 1954 com os
refrigeradores elétricos, sendo que ainda nos anos 50 predominavam as geladeiras
com gelo em pedra grande, que era muito precioso para ser quebrado em pedrinhas
para colocar em bebida. Era nessa “geladeira de gelo” que se resfriava o litro de
batida de limão, um armário de madeira com uma portinha onde se colocava ¼ de
gelo e tinha prateleiras onde ficava a comida para refrescar.
Outra coisa que vai delimitar o tempo é o limão e o fato de que antes do final
dos anos 60, não tinha sentido se falar de caipirinha com casca ou sem casca, porque
a caipirinha era feita com o limão galego que é esférico, tem muito sumo e uma casca
muita fina para ser descascada. Só a partir da praga que dizimou a plantação do limão
galego no Brasil na década de 70 é que se desenvolve a produção e utilização do
limão Taiti, que é elíptico e de casca rugosa. Ambos são bastante ácidos, mas o
galego é mais suave de paladar e aroma. Foi com o limão galego que surgiu a
caipirinha em Santos. Portanto, a acidez de sua casca fina era um dos componentes
da caipirinha original. O limão em geral só ficou popularizado no Brasil depois que foi
utilizado como remédio no combate à Gripe Espanhola em 1928. Era um fruto raro.
Essas características dos ingredientes gelo e limão abundantes delimitam o
aparecimento da caipirinha entre o final dos anos 30 e 60. Provavelmente, a caipirinha
nasceu no final dos anos 50 pelo surgimento dos refrigeradores elétricos e pelo
consequente aumento da oferta de gelo.
No final da década de 50 era preferência entre os jovens uma bebida feita
também com gelo, Coca-Cola, rum e uma rodela de limão, a famosa Cuba Libre, e a
sua versão com cachaça chamada de “Samba”. Na região Sudeste estas bebidas
embalavam as “festinhas americanas” e as baladas da época. Os mais velhos bebiam
a “purinha” dando preferência para a pinga artesanal, licorosa, envelhecida e
aromatizada.
Curiosamente, tanto o rum como a cachaça são aguardentes de cana de
açúcar. Nem mesmo se diferenciam do modo inicial de produção. Ambas utilizam o
melaço do açúcar e aditivos químicos para acelerar a fermentação, pois são
industrializadas e exigem grande produção, mas são muito diferentes da pinga citada
pela sobrinha da Tarsila, que é destilada do caldo da cana, é artesanal e produzida
em pequenas quantidades. Dessa forma, cachaça e pinga são coisas diferentes,
apesar de popularmente e, agora, a partir de 2001, legalmente serem consideradas a
mesma bebida.
Qualquer apreciador de caipirinha sabe que a pinga artesanal não dá boa
caipirinha porque o aroma e o paladar do carvalho ou bálsamo onde foi envelhecida,
assim como o seu sabor acentuado, interferem no resultado final da mistura. O
recomendável é fazer a caipirinha com a cachaça mais forte, porque vai ser diluída
com gelo. E deve ser branca, sem sabor de madeira, para não interferir com o limão,
de preferência o galego. Isto quer dizer que a cachaça industrializada é melhor para
fazer a caipirinha do que a pinga artesanal.
É exatamente por causa disto, que a história da origem da caipirinha origina-se
em Santos, no litoral de São Paulo. O primeiro engenho de cana de açúcar do Brasil,
o Engenho dos Erasmos, construído em 1530, fica no sopé do Morro da Nova Cintra,
local onde moram até hoje descendentes de portugueses açorianos e da Ilha da
Madeira. No local havia na metade do século XX diversos alambiques e considerável
plantação de cana de açúcar. O “Morrão” produzido no Morro da Nova Cintra, famoso
na década de 50, era uma pinga artesanal comparável às melhores de Parati.
Entretanto, a cachaça industrializada também vendida em garrafas na região – Três
Fazendas, Tatuzinho, Pirassununga, Velho Barreiro, Pitu – era originária da região de
Piracicaba e adjacências e, portanto, vinha do interior e era chamada pelos caiçaras
da região de cachaça caipira, para diferenciar da pinga artesanal ou morrão que era
nobre demais para ser misturada com gelo e limão. Caipirinha foi o nome dado à
mistura feita com cachaça do interior, diferenciando-se desde o nome do “Morrão”,
que era para ser degustado puro.
Ruínas do Engenho São Jorge dos Erasmos em Santos
A caipirinha era conhecida desde o final dos anos 50, em qualquer lugar de Santos e
do litoral paulista. Desde o internacional Parque Balneário Hotel, meca da elite e
turistas paulistas, Cassino Atlântico, restaurantes A Balneária, Boa Vista, Olympia,
Gáudio, até às barracas de praia e qualquer botequim, as pessoas sabiam fazer uma
boa caipirinha. Quanto a isso, é intrigante o fato de que até locais sofisticados de
Santos aceitaram difundir uma bebida desprovida de status, feita com a popular e
malvista cachaça. Para que se possa entender, é necessário esboçar o cenário de
Santos no final da década de 50 e início da década de 60 e a forte questão cultural
existente. A cidade era o local perfeito para o surgimento de qualquer produto que
representasse o novo, diferente e traduzisse o nacionalismo que aflorava entre os
jovens numa cidade que era revolucionária e conhecida como “Cidade Vermelha”. No
meio cultural, Gilberto Mendes, Patrícia Galvão, Plínio Marcos, Geraldo Ferraz, Sergio
e Cláudio Mamberti davam o tom do inconformismo da vanguarda da época. No
esporte é a era do fantástico time do Santos de Pelé. Na política, Mario Covas e
Esmeraldo Tarquínio são alguns dos exemplos da atividade de Santos. As “Bocas”
tinham a maior concentração de boates por metro quadrado do Brasil sendo um
importante polo turístico e de difusão cultural e interação com o mundo inteiro, graças
ao maior porto da América Latina.
Arte sobre autorretrato de Pagu
Neste ambiente é fácil compreender o sucesso de uma bebida que
representava a brasilidade, o popular e que, graças ao limão macerado e ao gelo,
adquirira um paladar mais suave e menos agressivo que a cachaça “in natura”, mas
ao mesmo tempo conservava o jeito de bebida de gente forte e poderosa bem ao
gosto dos estivadores que predominavam no cenário sindical, político e econômico
local. E por que uma nova bebida e não a batida de limão que já era chamada de
“brasileira”? Porque a batida de limão tinha uma aparência ruim de água suja, o
líquido oxidava e dava um amargor após algum tempo na geladeira, ao contrário da
caipirinha, que tem o aspecto agradável de coquetel.
Para contrastar com esse fato, ainda universitário em 1969, fui um dos
voluntários do Projeto Rondon que pela primeira vez utilizou o transporte marítimo
para conduzir os jovens da região Sudeste até o Pará, no Norte do Brasil. O
Transporte de Tropas Barroso Pereira, navio do tempo da 2ª Guerra Mundial, a partir
do Rio de Janeiro precisava parar em todos os portos por onde passava para se
abastecer de água potável. Como jovem, fiz uma pesquisa de campo involuntária
sobre a caipirinha desde São Paulo capital, de onde saiam os participantes de São
Paulo para o embarque no porto do Rio de Janeiro. Fortaleza, Recife, Natal, São Luiz
e Belém, ninguém contatado nesses locais, dos bares das zonas do cais aos clubes
sociais, jamais ouviu falar em “caipirinha”. Todos só conheciam a batida de limão ou
brasileira.
Em outra história de 1975, um amigo universitário foi convidado para uma
“pingada” em Piracicaba que não passava de um churrasco universitário com clima
local. Na viagem de Santos até Piracicaba, já no interior de são Paulo, os ocupantes
do carro pararam em um bar de beira de estrada e pediram ao balconista uma
caipirinha. A reação do homem foi violenta diante do que achou que era uma ofensa
às mocinhas locais! O homem só se acalmou quando explicaram que caipirinha era
uma bebida com sumo de limão, cachaça e açúcar. Então o homem, sem pestanejar,
tirou a garrafa do refrigerador com a batida de limão e ofereceu. Quando o meu amigo
disse que não era aquilo, teria que ser feita na hora, novamente o homem ficou
danado de raiva e os expulsou do botequim.
Esses ocorridos servem para reafirmar que o nome caipirinha não nasceu no
interior de São Paulo, onde era ofensivo aos locais. Diferentemente do morador do
litoral, que chama o do interior de “caipira” pelas costas. E o do interior, por sua vez,
chamava o nativo do litoral de “caiçara”… Nesse contexto, por evidência, o nome da
bebida não poderia surgir no interior de São Paulo e sim no litoral de São Paulo.
As caipiras
Desde o desenvolvimento do turismo e do jogo em Santos, na década de 40,
destinado principalmente para os endinheirados paulistanos e interioranos de São
Paulo, existe uma troca de experiências e sintonia muito grande entre os hospedeiros
e os visitantes. É óbvio que no caso da caipirinha, os turistas frequentadores da
Baixada Santista tiveram contato e conheceram a bebida típica de Santos que
acompanhava um bom prato de camarão “paulistinha”. Não é de estranhar aparecer
citação à caipirinha no livro Código da Vida, de Saulo Ramos, que morava aqui e
trabalhava no jornal A Tribuna de Santos nos anos 60.
Apesar de amplamente difundida no litoral de São Paulo, da Praia Grande até
São Sebastião, em 1975 a caipirinha ainda não tinha status para frequentar os
restaurantes e hotéis sofisticados fora do litoral. É dessa época a campanha do Rum
Bacardi que vai tornar a bebida aceita socialmente em todo o Brasil. “A Caipiríssima”
da Bacardi era a caipirinha que substituía a cachaça pelo rum. Essa campanha fazia
parte do esforço mundial da Bacardi para tornar-se a líder mundial de coquetéis de
misturas diversas. A Bacardi aproveitava a bebida local e a trocava pelo rum. A partir
da “caipiríssima”, a bebida entrou em ambientes nunca antes permitidos à cachaça.
Daí passando pela “caipiroska”, que é a receita com vodka, até retornar à cachaça foi
só uma questão de gosto, moda, preferência dos estrangeiros e brasilidade.
Voltando à questão do nome caipirinha, que é o que interessa neste ensaio,
pode-se presumir que só existe algo quando este algo pode ser nominado, para que o
produto possa ser diferenciado de outra coisa que lhe seja próxima. A caipirinha,
como a própria cachaça, nasceu em Santos e aqui foi batizada com o nome famoso
que a distingue. Consultado pelo autor, em 2009, o historiador Valdir Rueda não tinha
dúvida sobre o fato, já que, na região, a cachaça começou a ser adicionada aos sucos
de frutas na época da escravidão. O coquetel conhecido como caipirinha surge no
final dos anos 50 como uma bebida de praia, influenciada pelas barracas de praia e
balneários, combinando sol, praia, tempo de relaxar e férias. Seu nome deriva do
hábito local de chamar o que vinha do interior de caipira e a caninha industrializada
que se tomava em Santos era caipira. Portanto, CAIPIRINHA, com o maior carinho.
Marco Antonio Batan é doutor em Ciências da Comunicação (USP),
pesquisador e caipirólogo há mais de 40 anos.

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5 de January de 2012

LIGEIRINHO DO JARDIM CHOVE BALAS . Senta a pua, desça a lenha: Comente este post ou dê um link do seu site.