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OS ÚLTIMOS SUSPIROS DO MORIBUNDO

29 de October de 2008

OS ÚLTIMOS SUSPIROS DO MORIBUNDO

Durante os estágios efetuados ao longo do meu curso de graduação em enfermagem fui obrigado a presenciar a morte de algumas pessoas. Depois de algumas dessas experiências desagradáveis, mesmo com a reduzidíssima sabedoria de estagiário de enfermagem passei a perceber com alguma antecedência que este ou aquele paciente não duraria mais muito tempo. Em alguns casos é muito fácil ver que aquele corpo está fazendo uso de toda a energia que lhe resta para se manter vivo. E é justamente o uso desta energia que traz o seu esgotamento, e, conseqüentemente, a morte.
A matéria do Estadão de hoje (28/10/2008) intitulada “Governo quer pauta única para negociar com a Polícia Civil”, disponível em: http://www.estadao.com.br/cidades/not_cid268129,0.htm , acendeu a tal da luz vermelha – sinal de perigo – que carrego embutida na minha cabeça. Primeiro fiquei indignado. São muitas mentiras juntas em um texto não tão longo. Passei o dia todo cismado com o que li. À noite resolvi fazer uma releitura, com maior atenção e calma, pois a mudança do discurso – de “não negocio com grevista” para “pauta única, mudança de itens em discussão” e outras mentiras mais – é algo que simplesmente não combina com o nosso arrogante patrão.
Achei o motivo da luz vermelha justamente no subtítulo da matéria: “Fontes do palácio afirmam que não é possível equiparar salários de alguns segmentos com o de magistrados”. Ora, essa equiparação em nenhum momento foi sequer cogitada durante todo o nosso movimento.
Mais uma vez nosso amado patrão está tentando provocar uma grande ruptura no nosso movimento. Insinua que os Delegados estão pleiteando algo separado, deixando as outras carreiras para trás.
A mim me parece exatamente um moribundo reunindo todas as suas forças para tentar sobreviver. Está jogando as últimas fichas tentando provocar a desunião. Tivesse visto o que vi ontem, na Praça da Sé, saberia que essa alternativa não existe mais. Estamos unidos, e unidos permaneceremos. Mas, como todo bom político, já preparou uma saída “honrosa”, acenando com a possibilidade de uma negociação, desde que cumpridas algumas condições. Bate e beija.
Senhor Governador, infelizmente para o Senhor, o jogo agora não lhe permite mais impor condições. Quem dá as cartas somos nós. E as negociações, quando acontecerem, serão de acordo com as nossas regras. O senhor teve todas as oportunidades, e não as aproveitou.
A minha proposta para o comando de greve é que não seja aceita qualquer proposta de negociação sem que as seguintes condições sejam satisfeitas:
1 – A retirada dos projetos de lei enviados para a ALESP, para – agora sim – NEGOCIAÇÃO, e posterior reenvio com todas as correções necessárias;
2 – A substituição do Secretário da Segurança Pública e do Delegado Geral de Polícia (a permanência deles no cargo é uma impossibilidade política);
3 – O reconhecimento do Comando de Greve, integrado por um representante de cada uma das entidades de classe, como legítimo representante dos Policiais Civis do Estado de São Paulo;
4 – Que as negociações sejam feitas entre o Governador e todos os integrantes do Comando de Greve, sem intermediários, com a presença do Presidente da OAB para ser testemunha das conversações (infelizmente, por motivos óbvios, uma testemunha se tornou algo indispensável);
5 – Que seja assumido publicamente compromisso formal de que nenhuma retaliação será feita contra os Policiais Civis tendo como causa esse episódio.

Satisfeitas essas condições, aí sim poderemos pensar em utilizar o desfibrilador para tentar ressucitar o moribundo. Mas só o usaremos efetivamente quando nossas condições forem aceitas.

Abraços a todos, e até a vitória final

Flávio Lapa Claro
Investigador de Polícia
DAS/DEIC

OS NÚMEROS DO GOVERNADOR

25 de October de 2008



OS NÚMEROS DO GOVERNADOR

Dizem que a matemática é uma ciência exata. O resultado da soma de dois e dois sempre será quatro. Essa afirmação forma a principal base da sociedade atual. É a única certeza universal, além da morte.
Não fosse a exatidão da matemática, o computador seria algo inimaginável. A Lua, um satélite inalcançável. A Economia não existiria como a conhecemos. Talvez meu saldo bancário nem entrasse no vermelho num ou noutro mês…
Mesmo com toda essa exatidão o Homem consegue jeitos de obter resultados diferentes partindo dos mesmos dados. Interpretação, dizem uns… Manipulação, dizem outros.
No caso dos cálculos apresentados pelo Governo do Estado de São Paulo como base de sua argumentação para o não atendimento das nossas reivindicações, eu diria que há diferenças de interpretação, manipulação e até mesmo ocultação.
A notícia publicada hoje no Globo.com (disponível em:
http://g1.globo.com/Noticias/Brasil/0,,MUL836088-5598,00-GOVERNO+MUDA+REGRA+DE+VALEREFEICAO+PARA+POLICIAIS+CIVIS.html ) é clara demonstração que o governo peca na interpretação dos dados, os manipula e, até mesmo, os oculta. Interpreta errado quando não analisa TODOS os fatores envolvidos nesta ou naquela proposta de índice de reajuste. Manipula, quando afirma que o impacto no orçamento causado pelo atendimento das reivindicações será este ou aquele valor, mas não diz que esse impacto se dará ao longo de anos; quando não admite que o superávit causado pelo excesso de arrecadação permite não só o atendimento a todas as nossas reivindicações, com folga, como também deixaria um lastro razoável para atendimento de reivindicações de outros setores do funcionalismo público estadual, sem qualquer infração à Lei da Responsabilidade Fiscal; oculta, ao deixar de incluir nos valores TODAS as variáveis que compõem os vencimentos de cada policial.
Mas não importam as táticas por ele utilizadas. O problema que enfrentamos é a manifesta falta de vontade de minimizar os problemas da Segurança Pública e proporcionar aos Policiais Civis condições mínimas de uma vida digna.
Houvesse essa vontade, a interpretação e a manipulação dos números certamente existiriam, mas em um sentido totalmente diferente.
Ao reconhecer – segundo aquela reportagem – que graças ao “esquecimento” da existência do vale-coxinha (R$ 4,00 – aproximadamente 20 unidades por mês), um número significativo de policiais poderia ter um reajuste NEGATIVO, o Governo demonstrou sua incapacidade – ou falta de vontade – de fornecer números corretos para embasar as suas propostas.
Há que se reanalisar todos os números envolvidos – apresentados ou não pelo Governo – para que se confirme que a Matemática é uma ciência exata.

Flávio Lapa Claro
Investigador de Polícia
DAS/DEIC